quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Análise de Projetos


A seguinte análise tem como propósito estudar dois projetos de habitação coletiva vertical opostos feitos por incorporadoras do mercado atual. O primeiro, um edifício de apartamentos projetado por arquitetos de renome com uma proposta contemporânea de se pensar a habitação e atender às necessidades do usuário, bem como o impacto do entorno imediato na vizinhança. O segundo projeto trata-se de uma incorporadora de grande porte que constrói condomínios fechados de prédios de apartamentos com elevado número de unidades e amplas áreas de lazer, visando um mercado mais competitivo, enquanto a primeira visa um mercado mais específico.
O estudo tem como finalidade levantar as estratégias projetuais, a forma de pensar o edifício e sua implantação no terreno, assim como a disposição de mecanismos para atrair o mercado consumidor e principalmente a assistência do espaço para com o usuário. Para tal, escolheu-se um caso típico e outro atípico.

CASO TÍPICO: Condomínio Acácia – Gafisa S/A


Foto: Condomínio Acácia
Fonte:http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#0
O Condomínio Acácia, construído pela incorporadora e construtora Gafisa, está situado no bairro Vila São Francisco, zona oeste da cidade de São Paulo em meio a outros condomínios do mesmo gênero. Com uma ampla área, o condomínio se dispõe em meio a diversas áreas de lazer e convívio, ponto forte utilizado nas propagandas do empreendimento. As obras foram concluídas em 2010 e possui 192 apartamentos, que se distribuem em 6 blocos de 8 pavimentos cada, tendo quatro tipologias de apartamentos, uma de 95m², a segunda de 141m², ambas simplex, a terceira tipologia, um duplex com 297m² e a quarta outro duplex com 374m², ambos os duplex são coberturas.



Planta Ilustrativa de Implantação
Fonte: http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#7



Projetado por Cambiaghi Arquitetura, as tipologias dos apartamentos, apesar de possuírem um tamanho considerável dependendo da tipologia que se escolhe, o projeto ainda pensa no espaço da residência como uma repartição tri-partida, definindo claramente as áreas social, íntima e serviço. Além disso, não trás nenhuma possibilidade de flexibilidade do espaço, mesmo que não momentânea, como um painel ou parede móvel. Suas repartições são bem definidas e os espaços servem para corresponder a determinada função.
À nível de bloco, nota-se que os 6 estão alinhados com as extremidades do terreno, se fechando para a cidade e 3 destes blocos posicionados relativamente próximos, enfraquecendo também a noção de privacidade. É de se observar também que deste 6 blocos, 2 são destinados às tipologias de maior área, ou seja, às pessoas com maior poder aquisitivo, havendo assim, uma segregação deste para com outros moradores do mesmo condomínio mas moram no apartamento mais barato.
O Condomínio Acácia possui uma extensa lista de áreas destinadas ao lazer:

·         Apartamento do zelador
·         Área de apoio aos funcionários
·         Área de descanso
·         Bar tropical
·         Central Delivery
·         Churrasqueira
·         Deck molhado
·         Ducha
·         Espaço de apoio ao salão de festas
·         Espaço gourmet
·         Espaço gourmet com churrasqueira e forno de pizza
·         Espaço mulher
·         Espaço para descanso
·         Espaço para fitness
.     Espaço para treinamento de cães
·         Espaço para massagem
·         Espaço zen
·         Home theater
·         Lan house
·         Lava-pés
·         Manicure
·         Miniquadra
·         Piscina adulto com raia de 25 metros
·         Piscina infantil
·         Playground para crianças de 0 a 5 anos
·         Playground para crianças de 5 a 10 anos
·         Portaria
·         Praça
·         Praça das babás
·         Recreação infantil
·         Sala de jogos juvenil
·         Salão de cabeleireiro
·         Salão de festas
·         Salão de jogos
·         Sauna
·         Solarium
·         Spa
Ilustração artística da área externa.
Fonte: http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#12 

Ilustração artística da piscina de 25 metros.
Fonte: http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#12 

Ilustração artística do playground.
Fonte: http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#12 

Ilustração artística da quadra de esportes.
Fonte: http://www.gafisa.com.br/imoveis/sp/sao-paulo/acacia#12 



Construído em sistema convencional, com estrutura independente, os prédios possuem diversos pontos hidráulicos fixos e shafts, tendo em algumas tipologias desde banheiros para empregada até canil. Um ponto interessante do condomínio é a garagem semi enterrada, que possibilita a ausência de carros no interior do condomínio, podendo este, assim, ter uma maior quantidade de áreas verdes e permeáveis. A maioria das atividades de lazer é realizada nos pavimentos térreos das edificações, em locais cobertos e fechados. Na faixa leste da implantação, há três edifícios alinhados, e como as plantas deste tipo de prédio geralmente são rebatidas, portanto, perde-se bastante a noção de privacidade, tendo janelas umas de frentes para outras. A forma externa dos edifícios é resultado da disposição dos espaços em planta, demonstrando o ponto de partida do projetista.

Nota-se claramente, usando este empreendimento como exemplo, a tendência cada vez mais crescente de utilizar a área de convívio e lazer dos condomínios como principal atrativo para a venda e valorização das unidades. A extensa lista demonstra como a habitação é deixada de lado para se enfatizar essas áreas, e dar a ideia de se morar em um clube, provido de toda infra estrutura e comodidade que uma pessoa necessita. Porém, este tipo de solução acaba privando o indivíduo do convívio com a cidade. O próprio local onde o Acácia se encontra é prova disto, pois tem suas entradas principais (de veículos e pedestres) voltadas para uma rua sem saída e em meio de condomínios de prédios de apartamentos iguais à ele. Desta maneira, os moradores, na condição de cidadãos, ou seja, que fazem parte da cidade, não cumprem seu papel e utilização das áreas coletivas e de lazer na cidade muitas vezes por reclamarem da falta de segurança nestas áreas, sendo assim, deixadas ao abandono ou ao uso de pessoas problemáticas, como viciados, mantendo um ciclo constante.
Outro fator intrigante deste tipo de empreendimento é a forte propaganda feita sobre ele. Com várias imagens ilustrativas das áreas de lazer, principalmente, e com layouts modelos de plantas para mostrar diversas formas de se habitar o espaço e até mesmo fotos em 3D. O mais impactante é o discursos que se lê logo no início falando sobre o condomínio.
“Viver no Acácia é mostrar de forma definitiva que morar bem também pode ser divertido. O projeto criado por Cambiaghi apresenta apartamentos confortáveis, onde cada ambiente proporciona aquela sensação de felicidade. A núcleo arquitetura, ao pensar no projeto paisagístico, preocupou-se em oferecer aos moradores um clube completo cercado por muito verde. Nadar, malhar, relaxar, jogar futebol, fazer sauna. Acácia é o espaço exclusivo para cuidar do corpo e da mente todos os dias.”

A intenção não é mais vender uma habitação que atenda de forma confortável e aconchegante o usuário, a estratégia tão pouco é vender o clube do condomínio. A estratégia é usar estes artifícios para vender o que essas empresas muitas vezes chamam de “felicidade”, felicidade de ter “seu” próprio salão de cabeleireiros, ou uma lan house, ou um espaço gourmet (coletivo), dentre uma extensa lista. Atualmente, quanto maior o empreendimento, maior e mais complexo é o programa de infra estrutura, principalmente maior a quantidade de espaços de convívio e lazer. Espaços estes que acabam, na maioria das vezes, sendo pouquíssimos usados pelos condôminos. Hoje em dia, comercializa-se muito mais o status que a pessoa que mora em um Condomínio Acácia da vida terá, do que propriamente a nova vida que passará a ter se comprar um apartamento desses.




Fichas











CASO 02: EDIFÍCIO SIMPATÍA 236 – IDEA ZARVOS

Perspectiva - Edifício Simpatia 236

O edifício Simpatia, localizado na Rua Simpatia 236, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, foi idealizado pela incorporadora IDEAZARVOS e parceiros. Projeto do escritório Grupo SP, o edifício traz um conceito totalmente contemporâneo de se construir a habitação coletiva verticalizada, típico dos edifícios da incorporadora. A IDEAZARVOS se destaca no mercado por construir edifícios de apartamentos e mistos combinando a boa arquitetura, com premissas atuais, como flexibilidade do espaço, e a boa arquitetura, que compõe harmoniosamente a paisagem da cidade. Seus empreendimentos podem ser encontrados principalmente no bairro Vila Madalena, mas também no Alto de Pinheiros e outros. Destinado ao público de alto padrão, mostra também que pra se viver bem e como se quer, é preciso desembolsar um considerável montante de dinheiro.
O Simpatia 236 não é só um projeto de arquitetura, não é somente um edifício fincado na cidade, ele é uma referência de morar bem em um projeto de griffe. Com plantas completamente livres, inclusive a área úmida, o espaço permite que o usuário o modele como ele queira. Assim, não existe o apartamento padrão, ou rebatimento da planta, pois cada apartamento tem sua forma específica. Vale ressaltar que as duas tipologias existentes por andar são diferentes, e o prédio não possui uma forma concebida pela planta, como no Acácia. Porém, nota-se que o volume do prédio segue o recuo das duas laterais.
Análise de estruturas.
Fonte: Autor. 
Estudos de Insolação e Ventilação.
Fonte: autor.

Finalizado em 2011, o prédio possui estrutura de concreto independente, com exceção da estrutura das varandas da rua Medeiros feita em estrutura metálica. Entre as colunas existe uma certa modulação, que cabe apenas a algumas (vide desenhos). As esquadrias também foram moduladas, assim pode-se dimensionar espaços e instalar divisórias. Os pontos hidráulicos foram espalhados pela fachada em diversos lugares, respeitando a ideia de flexibilidade, assim, podem ser instaladas as áreas úmidas livremente pela planta, desde que estejam próximas às paredes laterais.




Estudo de acessos e circulação vertical.

O edifício possui apenas 13 unidades distribuídas a duas em 8 andares, sendo os dois últimos coberturas, que no caso pode abranger até 3 pavimentos. Devido à deformação do terreno, respeitada pelos arquitetos, foram construídos dois térreos, com casa para zelador, garagem, pomar e uma piscina de uso coletivo. Outras duas piscinas se encontram nas coberturas, uma em cada. Como o terreno era muito estreito para a rua Medeiros, optou por ao invés de construir um muro de 6 metros de altura, os arquitetos contornaram a situação com uma gentileza urbana, colocando, algumas árvores e um banco.
Porém, o prédio que têm características contemporâneas, quando se entra na escala do apartamento, mostra ainda traços conservadores. Apesar da planta livre, quando se estuda os layouts desenvolvidos para os clientes, nota-se que ainda se parte do conceito de repartição tripartida, mesmo que as paredes sejam de gesso acartonado, que facilita na futura reforma. As tipologias são em sua maioria separas em setores íntimo-social-serviços.


Área de Lazer na Cobertura.
Fonte:http://www.ideazarvos.com.br/site/projeto/perfil/14

Área de Lazer Coletiva.
Fonte:http://www.ideazarvos.com.br/site/projeto/perfil/14


Fichas








Considerações Finais

Dentro do contexto do boom da construção civil, a cada dia nós vemos um ou mais novos empreendimentos a serem construídos. Propagandas diariamente invadem nossas mentes, com imagens deslumbrantes, maquetes físicas de grandes condomínios, tentativas de nos vender felicidade e status social. Você é onde você mora. Grandes incorporadoras como a Gafisa S/A, Tecnisa, Rossi e outras estão a cada dia que passa construindo e transformando as cidades com seus projetos inadequados de habitação. Projetos que não atendem ao usuário. Que possuem um mínimo espaço de habitação, ou que não são projetados de acordo com as condições climáticas nem as orientações naturais do local. Projetos de condomínios que se multiplicam indiscriminadamente, gerando um grande impacto nas cidades, na arquitetura, no modo de pensar e habitar das pessoas. As propagandas tendenciosas ao erro, os apartamentos mobiliados onde tudo parece caber perfeitamente, as estratégias de marketing para atrair consumidores. Tudo faz parte e tudo vale para vender o produto. Vende-se o mundo de fantasia, onde você tem um clube, recheado de áreas de lazer sempre que quiser, com os nomes mais atraentes e chiques que se pode ter. Espaço fitness, espaço gourmet, garage band. Paga-se caro pela ilusão de ter algo que poucos chegarão a usar, e usarão pouquíssimas vezes, mas pagarão o alto preço do condomínio todo mês. De que vale morar em um apartamento pequeno e apertado, cheio de compartimentações, só para ter sauna, SPA, playgrounds ou espaço para treinamento de cães?
A arquitetura e principalmente a habitação passa por um período problemático, onde a produção desenfreada e sem pensar nas consequências está trazendo um impacto negativo em nossas cidades. Os enclausures privados faz com que as pessoas deixem de vivenciar a cidade. As pessoas estão cada vez mais no seu mundinho particular, dentro do seu condomínio, convivendo sempre com as pessoas do condomínio, saindo deste e indo direto de carro para o trabalho, para o shopping e de volta para o condomínio. Não se pensa mais na cidade. O medo da falta de segurança faz com que as pessoas queiram se fechar e se trancar cada vez mais em muro altos, com cercas e guaritas com vigilância 24h. Não percebem que negar a cidade ajuda a agravar este cenário precário. De quê adianta viver de status quando se mora em um lugar com segurança mais rígida do que de um presídio.
Mas, enquanto nos vemos estes condomínios crescerem e se multiplicarem na mesmice, temos em contrapartida a ideia mirabolante de Octávio Zarvos, que viu uma fresta no mercado e aliado com bons arquitetos e um ótimo gosto para arquitetura, decidiu iniciar sua carreira na incorporação e apresenta hoje o que as cidades precisam. Edifícios que dialoguem com estas, como é o caso do Edifício Simpatia 236. Com projetos que busquem atender as necessidades reais dos usuários, a incorporadora IDEAZARVOS trabalha não só uma linguagem contemporânea de estilo arquitetônica, mas um pensar contemporâneo da forma de habitar. Plantas livres, prédios entregues no contra piso e sem forro, para que o cliente escolha os materiais de revestimento do seu apartamento. Flexibilidade, processos industriais da obra, exploração dos materiais, bons arquitetos que resultam em ótimos projetos e clientes satisfeitos. Este é o diferencial que não só as pessoas precisam, mas também a cidade. O IDEAZARVOS é um dos principais responsáveis pela mudança no cenário da Vila Madalena, mudança essa pra melhor, valorizando o espaço e a forma de morar. 




Referências Bibliográficas


http://www.ideazarvos.com.br/site/
http://www.gafisa.com.br/imoveis

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